segunda-feira, novembro 21, 2005

Uma ou duas ou três coisas

Sabe, eu queria que você soubesse de uma coisa. Uma não, talvez duas ou três, não sei. Sabe, quando esses nossos encontros noturnos começaram eu pensei que não seriam longos, nem duradouros, que logo logo, assim, como quem enjoa dos morangos em agosto, você se afastaria de mim. Talvez não dissesse nada, talvez justificasse o afastamento com o fato de nossos signos serem incompatíveis ou que tudo começou quando a lua estava fora de curso. Sei lá, uma dessas coisas desconexas que as pessoas dizem por aí pra justificar impulsos juvenis. Ou então, pensei eu, que eu não iria mais querer você e talvez minha justificativa fosse ainda mais juvenil que essa baboseira toda de astrologia, quiromancia, não-sei-que-lá-ia, de repente algo como “não temos afinidades musicais”, mas isso nem é verdade, né? Ou é? Não é, né? É, não é.

Sabe, eu queria que você soubesse que ontem fiquei pensando que depois de ter você, talvez, assim, quem sabe, o desejo diminuísse um pouco, e então não mais iríamos nos querer, mas não, né? Parece que esse desejo só aumenta, não é? Você também sente isso? Sente, né? Eu acho que sente sim. Quanto mais o tenho, mais lhe quero. E sei que você também me quer. Não quer? Sinto isso. Sinto sim. Sinto assim, como na primeira noite, ou na última. Sempre misturo minhas cenas preferidas do teu corpo misturado ao meu numa noite única, indefectível. Lembro do seu corpo úmido, quente, agitado e lento sobre minhas costas naquele sofá, lembra? Eu lembro. Naquele dia de chuva. Era o quê, sábado? Era uma tarde chuvosa. Ainda sinto o cheiro da chuva. Da chuva, do teu corpo, nossos cheiros transformando-se em um só cheiro. Sexo. Sábado. Devia ser sábado. Lembro de cada detalhe, de cada som, de cada gota de suor, de cada beijo que ganhei da sua boca, macia, grande, fresca que conhece cada canto do meu corpo provocando sensações como se o corpo nem fosse meu, fosse seu. É, isso, talvez seja isso, né? De repente eu já sou mais sua do que minha. Você sente isso? Eu me sinto tão tua às vezes. Mas pera, não é isso ainda.

Sabe, assim, eu acho que você devia saber que se não fosse isso, quando você me vem assim com esses seus olhos de natureza, é, é isso, esse azul de céu ou verde de mato, de grama, que lembra jardim. Isso me lembra o Éden, a fruta (não o morango de agosto que enjoa). Me lembra Adão, Eva, a serpente, corpos nus, o pecado. Pecado bom, né? Mas não é isso. Eu quero que você saiba dessa uma ou duas ou três coisas que eu sinto aqui dentro. Sabe, hoje eu fiz uma experiência, acho até que você devia tentar, fiquei quietinha, parada e teria ficado imóvel se não fosse essa britadeira aqui dentro, aqui assim, no tórax, sabe? Essa coisa que faz a gente suspirar o tempo inteiro, que quase sufoca, uma asfixia boa como aquela sensação de andar de balanço quando a gente é criança, aquele friozinho na barriga que não é de medo, que é bom, que faz sorrir, sabe? Sabe, né? Minha amiga falou que parece um balão. Sim, um balão que vai subindo, sobe pra cabeça, chega a dar dor de cabeça, calor, frio, calafrio, e sim, tira a fome, tira tudo, a fome, o sono, o juízo. Se não fosse essa coisa agitada dentro de mim, eu olhando pro decote da minha blusa vermelha, só porque você gosta quando eu uso vermelho, e no meu decote eu vendo essa agitação fazendo meus seios darem pequenas tremidinhas, eu teria ficado imóvel.

Mas sabe, eu queria que você soubesse que eu acordei alguma hora entre 6 e 7 horas da manhã de hoje e nem abri os olhos, já pensava em você. Não paro de pensar. Não paro de desejar. Eu te quero tanto. E quando penso em você quase posso sentir seu cheiro e a temperatura da sua pele, assim, do seu corpo quando me imagino no teu colo, querida e protegida e possuída. Tenho vontade de agarrar seu corpo com braços, mãos, pernas e boca e te manter ali, encaixado em mim, agarrado a mim até essa sensação imensurável de desejo passar (se é que passa). E assim, quem sabe, talvez, eu passe o resto do dia, da noite, do amanhã e do depois até que, talvez, quem sabe, assim, a gente perceba que a sinastria dos nossos signos não é boa e que é melhor você ficar com os seus discos e eu com os meus livros. Mas até lá eu só queria que você soubesse.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Eu tento repirar...
mas o pulmão dói.
dói igual a quando tento levantar minha mão.
Não sei o que faço aqui.
Queria poder ir embora...
Mas tudo passa tão depressa...
a dois dias era somente uma criança...
ontem, um adolescente, que só tinha uma preocupação...
passar de ano... e mesmo assim, como reclamava.
Podia olhar as meninas...
Falar-lhes algumas frases picantes...
E se retornado com um sorriso... alargar o peito e ir adiante.

Eu tento respirar...
Mas a cabeça me dói.
Dói de uma forma única e sem igual.
Como jamais doeu antes.
Queria poder ir embora...
Mas o escuro me envolve...
me deixando imóvel.
Tantos dados da sorte lançados,
tantas cartas marcadas passaram...
Quantos jogos ganhei?
Menos do que perdi...
Mas esta é a lei...

Penso, mesmo com toda a dor...
O que esta lá fora?
O que eu deixei?
Um punhado de areia...
Poucas idéias...
algumas memórias em fotografias amareladas.
Só não sei se alguma lágrima...
Seria bom...
Não para quem as chora, mas para mim.
Sentiria-me amado...
Nem os copos de chopp lembrarão!

Eu queria poder dizer mais uma vez...
Olá...
Eu queria ver o sol, mais uma vez...
só há escuridão...
Poder ter segurado aquela mão, que passou por mim,
no meio de toda aquela multidão e ali,
tive certeza de que era a minha metade.
Mas deixei ir embora...
Quero ir embora...
E tentar acertar meus erros...
Sorrir para quem cerrou os olhos para mim...
Eu só queria poder ir embora daqui...
e ver o sol...
ver a luz.