segunda-feira, março 28, 2005

Culpa do vinho do porto

Dia desses aceitei o convite de uma grande amiga pra passar um final de semana fora do Rio. Finalzinho de semana, coisa light, só eu e a família dela.

Havia uma equipe de recreadores excelente. Tão boa que um deles, Gegê, acabou fazendo hora extra comigo. Durante nossa primeira conversa, já me sentindo íntima, fiz a pergunta que não queria calar:

- Mas por que “Gegê”?
- Meu nome, ué.
- Mas é Gegê de que? Seu nome é Gegê?
- Não. O pessoal me chama assim.
- E o seu nome?
- Você vai rir.
- Não vou.- Respondi quase rindo. hahaha como é que eu consigo rir de algo que nem sei o que é?
- ...
- Juro! Fala! Que bobeira! Não posso rir. Eu e essa minha curiosidade catastrófica.
- Chuta, vamos ver se você acerta. Odeio essa brincadeira de “o que é, o que é?”.
- Ahh, sei lá...Geraldo, Genivaldo meu porteiro é Genivaldo, Gelson, Gerson, Gilson, Geremias, Gerônimo acho que esse é com jota, Geraldo...já disse Geraldo?
- Não, não, não...nada disso. Já disse Geraldo sim.
- Não faço idéia. Deixa de bobeira e fala, vai.
- Giuliard. Tem um cantor com esse nome...
- Legal. Qual o problema desse nome? Lembrei: “Uma nuvem que passa...”
- Não gosto. Prefiro Gegê. Eu também.

Noite seguinte, no bar do hotel, eu e minha amiga jogávamos carta e tomávamos vinho do porto. Ela, sempre comunicativa, logo entrou na conversa de dois hóspedes, senhores muito simpáticos, que conversavam na mesa ao lado sobre o hotel onde estávamos todos hospedados. Sentado próximo ao bar, mas não distante da gente, estava o Leo, que é outra simpatia e recreador do hotel. Um dos hóspedes perguntou quem era o mais novo na equipe.

- Dessa equipe que tá aqui agora é a Pit. – Respondeu o Leo. – Agora adivinha porque “Pit”. – Continuou.
- Pitbull! – Respondeu rapidamente o senhor em tom de certeza.
- Acreditam que nem eu sei o nome dela? Pô, Leo, agora eu fique curiosa.
- Mas não é Pitbull? – A voz do senhor agora era de decepção.
- Ninguém aqui sabe o nome dela.
- E o do Gegê? – Perguntou o outro senhor sentado mais próximo à mim.
- Vocês não vão acreditar... Ah, Leo, que brincadeira sem graça! Odeio “o que é, o que é?”!
- Alguém me disse hoje que era Galindo. – Respondeu um dos senhores

Senti como se tivesse entrado em choque. Senti algumas coisas estranhas misturadas com uma vontade quase incontrolável de rir. Eu não conseguia tirar meus olhos do meu jogo. Tentei me concentrar no jogo. É minha vez? Geralmente é quem pergunta.

- É Galindo. – Leo continuou a conversa pronunciando o nome do amigo recreador lentamente, quase sílaba por sílaba que ecoou na minha cabeça. Ga-lin do...Como assim, bial?Não era Giuliard? Será que isso é uma espécie de brincadeira? Coitado do garoto...Galindo é ruim demais ...Eu não consigo me mexer! Acho que entrei mesmo em choque!

Enquanto eu tentava definir/ disfarçar minha reação, ouvi uma voz vindo de trás do bar:

- Não era Giuliard? Pelo menos eu não fui a única a ser enganada...”Uma nuvem que passa...”. Respirei fundo. Bebi um pouco do meu vinho do porto. É, ele havia mentido o nome pra mim.

A voz vinda de trás do bar era o João. Garçon de uns quarenta e poucos anos, estatura média e bem magrinho. Boa gente, simples, na dele, bem tímido. Parece aqueles personagens de comédia pastelão que só se dão mal. Mas boa gente.

Todos olharam pra ele com cara de “hein?”. Levantei de leve os olhos na direção dele e vi seu olhar distante, provavelmente tentando lembrar quando e onde foi que ele soube que era Giuliard. Ele parecia decidido a defender o Gegê e provar que o nome dele não era nada Galindo e sim Giuliard. O Leo, que estava sentado ao lado do bar, virando-se para ele disse:

- Galindo, João. Galindo.

Para de repetir esse nome, Leo!!! O olhar do garçom agora era de decepção. Coitado do João. “Uma nuvem que passa...”. Ai, esse joguinho tá tão parado. Não agüentei e caí no riso enquanto ouvia o Leo dizer o quanto o Gegê odeio o próprio nome embora o tom de voz dele durante toda a conversa fosse de alguém que não via nada demais em se chamar Galindo.aff

Quando eu comecei a rir, percebi que minha amiga estava tão chocada quanto eu.

- Cris, cê ouviu isso? – Ela sussurrou.
- Ouvi, Lê, ouvi...
- Não era Giuliard? – Ainda baixinho.
- Essa foi a pergunta do João. – Respondi sem olhar muito pra ela pra tentar conter o riso. Afinal, o Leo sabia das horas extras e eu não queria dar qualquer bandeira. Bebi mais um pouco do meu vinho.

Mais alguns minutos dedicados à polêmica sobre o verdadeiro nome do recreador e os dois senhores despediram-se e foram dormir convencidos de que Gegê vem realmente de Galindo. Mas o João não estava convencido. Nem eu, João.

- Leo, senta aqui...- Pedi.
- Fala, Cris. – Aproximando-se.
- Fala a verdade pra mim. Qual o nome dele?
- Galindo. Aii
- Mas como você sabe disso? – Minha amiga perguntou. Boa, Lê!
- Porque ele quando chegou aqui no hotel pela primeira vez se apresentou pra mim como Galindo.

Segundos de olhares curiosos em silêncio.

- É, então é Galindo, Lê...É oficial, ele mentiu pra mim. – Desabafei jogando minhas cartas na mesa.
- Mentiu pra você, Cris? Qual o nome que ele disse que era? – Leo perguntou surpreso e com ligeiro semblante de arrependimento.
- Giuliard. – Lê respondeu rápido enquanto ria. – Giuliahahahard. Igual o do cantor..como é a música, Cris?
- Uma nuvem que passa.... - Bebi mais um pouco. Não parávamos de rir.
- Inclusive eu tenho um sobrinho que o nome dele é Giuliard e ele fala sempre pra mim que o único chará que ele tem é o Gegê. – Contou o discreto garçom cheio de esperança.

Nesse momento ficou claro pra mim que o Leo nunca soube que o Gegê havia se apresentado no hotel como Giuliard e começou a rir também.

- Pô, mas o cara além de mentir ainda diz que é Giuliard? Podia ter usado outro nome, né? – Leo dizia enquanto ria, mas continuava falando em tom de quem não vê nada demais em se chamar Galindo.”.

Quase acordamos o hotel de tanto rir

- Ah, gente, não vai rir amanhã quando encontrar com ele, né?
- Leo, me pede tudo agora, menos isso. É claro que eu vou rir!
- ...
- Já sei, Leo, se amanhã quando eu acordar eu ainda me lembrar disso, vou associar ao vinho do porto e fingir que não aconteceu. – Disse logo depois de beber minha última tacinha de vinho do porto.

E eu continuo sem saber o nome da Pit.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

HAUahUAHuahUAH muito engraçado... e o sujeito, além de um nome tétrico, também tem mau gosto... já que é pra usar um pseudônimo com ge, que pelo menos seja um razoável... Giulliard, pelamordedeus!

4:25 PM  
Blogger Carlos Eduardo Gomes said...

Pit... Provavelmente Priscila.
Será Priscila???
Definitivamente Priscila... conheço várias Pit's Priscilas (na verdade só uma)... é deve ser Priscila.

Mas Galindo, esse eu não acertaria.

Abraços,
Dudu.

12:35 AM  
Anonymous Anônimo said...

ta sumida muié

7:18 PM  

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