sábado, dezembro 11, 2004

O homem bumerangue – Parte I

Alê e seu amigo Leon estavam na livraria (dessas que vendem do caderninho de telefone ao DVD-importado-de-coleção) procurando o cd da trilha sonora do filme que acabaram de assistir. Filme bem mulherzinha, mas com excelente trilha sonora. Leon adorou. Entre livros e revistas Alê se assustou...

- Ah, meu Deus, é ele ali!
- Quem?
- Shhhhh! Fala baixo!
- Ele quem? - Sussurrando.
- O Beto.
- O seu Beto?
- Bem, infelizmente ele não é meu, mas é esse mesmo que você tá pensando.
- Cadê?
- Disfarça...tá ali nos cds.
- Aquele com a loira?
- Loira? Filho da puta!
- Pode olhar de novo, eles não estavam juntos.
- Não quero e não posso falar com ele. Tenho evitado ele há dias.
- Meu bem se você não quer esbarrar com ele, deveria considerar a idéia de mudar de cidade. Vocês vivem se encontrando.
- Engraçadinho.
- Ele é uma coisa de bonito, hein?
- Ele é homem e é meu.
- Agora ele é seu, é? Então fica aí admirando que eu vou ver de perto.

O Beto é um dos homens mais bonitos que Alê conheceu. Ele se acha. Também pudera, deve ter saído com metade das mulheres magrinhas, loirinhas e turbinadas da escola, da faculdade, do trabalho e do clube e a outra metade ele não quis. Tão lindo, tão maravilhoso, tão atraente, tão inteligente, tão charmoso, tão cheiroso...Encontraram-se várias vezes e quando estavam na cama pareciam ter sido feitos um pro outro. Desde a última vez que estiveram juntos Alê não atendia ou retornava suas ligações sem qualquer motivo aparente. Beto era o tipo do homem que ela sempre pensou que jamais olharia pra ela. Mas olhou. E estava olhando novamente naquele momento.

Acho que ele tá vindo pra cá. Ele tá vindo. Puta merda ele me viu! E agora que que eu faço? Operação disfarce: finge que tá comprando um livro. PEGA UM LIVRO. Pra que? NÃO disfarça...você ESTÁ mesmo comprando livros. Você ADORA livros!
- Oi, gata.
- Oi. Que cheiro bom!
- Que bom te encontrar. Senti sua falta na sexta. Canalha! Certamente voltou pra casa com uma daquelas barbies com pernas enormes sem celulite.
- Não pude ir.

Momentos de conversas superficiais...

- Não sabia que você gostava desse tipo de leitura.
- Como?
- Esse livro na sua mão.
- Ah..

Ele tomou o livro da mão dela.

- 500 Perguntas sobre sexo? Droga, eu não podia ao menos ter escolhido o livro-álibe? Que porra de livro é esse?

- Tava só folheando.
- Você não precisa disso.

Ela sorriu sem graça.

- Assim você fica mais sexy ainda.

Ela sabia que ele a deixaria sozinha novamente e voltaria a ligar e a deixaria sozinha novamente. Ela leu sobre homens bumerangue em uma dessas revistas femininas que prometem ensinar suas leitoras a conduzir uma transa perfeita para o parceiro e não as deixam gozar em paz. Dizia que esse tipo de homem aparenta ser o homem ideal, mas na verdade têm apenas uma enorme necessidade de conquistar e seduzir. Chega de homens sedutores. Continuavam conversando. Que que esse homem está fazendo comigo? Ou melhor, o que eu estou fazendo com esse homem aqui? Eu deveria estar é na cama dele. Por que eu não consigo prestar atenção no que ele está dizendo? Por que ele cheira tão bem? Por que ele está olhando desse jeito pra minha boca? Ele quer me levar pra cama, é isso? Ele sabe que eu não resisto quando ele me olha assim. Ele segurou-a pela nuca e falou no ouvido dela.

- Vamos sair daqui. É, ele quer me comer. Será que ele leu meus pensamentos? Cadê o Leon?
- Não dá.
- Por que não? Você não quer?
- Não é isso...é que eu to com o Leon, e...

Leon apareceu atrás dela indiferente ao momento.

- Comprei o cd. Vamos?

Despediram-se rápido e todos foram embora.

No caminho pra casa ela agradeceu seu amigo por tê-la tirado dali e explicou porque não foi embora com o Beto.

- Então foi isso, Alê?
- Foi. Ainda bem que tenho você.
- Tudo bem, amiga, mas não acho isso seja motivo pra não ir pra cama com ele.
- Leon, pelamordideus, calcinha azul e sutiã cor de abóbora!
- Você quer enganar quem?

(continua)